Joias e bijuterias, alimentação, serviços pessoais e vestuário foram apenas alguns dos 16 itens que tiveram alta superior à inflação registrada em 2010, que no Distrito Federal ficou em 5,71%. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), seis dos nove grupos de setores analisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fecharam o ano acima dos 5,71%. A redução do poder de compra do brasiliense, no entanto, não superou a média registrada no país, que teve elevação média de 5,92% no custo de vida. Ainda assim, diversos setores sofreram com o aumento geral de preços, chegando a superar, inclusive, as taxas registradas nos demais estados.

No topo da lista está a alimentação, com 11,88% de alta nos preços. Dentro desse segmento, a alimentação no domicílio registrou aumento de 13,29%. Comer fora de casa também ficou mais caro: 9,95%. Rogério Muniz Netto, gerente de um empório na Asa Norte, acredita que o reajuste no custo final dos produtos prejudicou o consumidor porque não houve atenção suficiente do governo.

“Os impostos estão sobrecarregando as empresas. Nós estamos enfrentando problemas climáticos no país e há um reflexo direto na oferta. Chove em São Paulo e a produção de tomates cai. Com isso, a demanda aumenta e os fornecedores sobem o preço. O governo, por sua vez, não alivia para a gente. Nós já conseguimos tirar o imposto sobre a maçã e a pera, mas e o resto?”, questiona. Segundo o gerente, os empreendedores no DF também sofrem com o custo para manter o comércio, principalmente o valor do aluguel. “O frete sai mais caro porque a pista tem buracos e o nosso gasto com manutenção aumenta, já que a luz oscila o tempo todo e as máquinas queimam”, reclama.

Mas, de acordo com o professor de ciências contábeis da UnB Roberto Piscitelli, o motivo da escalada da inflação no segmento também está atrelado ao mercado internacional. Ele conta que os alimentos vêm pressionando o custo de vida porque grandes consumidores no mundo, como a China, têm importado cada vez mais. “Lá, a população deixou o campo e foi para a cidade. Ou seja, houve queda na produção e aumento no consumo. Com isso, o mercado brasileiro fica pressionado. Ele tem de se abastecer, mas também quer vender para fora. Por este motivo, a inflação afetou a alimentação em todo país.” Segundo o levantamento do IBGE, o índice nacional dos alimentos ficou em 10,39%, quase três pontos percentuais a menos que no DF.

Mas foi dentro da categoria vestuário que a moeda passou a valer menos, especificamente no item joias e bijuterias. Durante o ano passado, a inflação medida no DF foi de 17%, enquanto no restante do país esse número foi bem menor: 13,94%. Fernanda Gontijo, proprietária de uma loja de roupas, brincos e colares, conta que alguns produtos sofreram aumento de quase 50%. “As minhas peças vêm de diversos estados do país, e o aumento no preço da bijuteria foi nítido. O principal motivo foi o banho de ouro e prata. Para evitar trocar os preços constantemente, optei por não repassar essa diferença nas peças que temos sempre na loja, como as argolas. O movimento não diminuiu, mas o nosso faturamento, sim”, reclama.

habitação também sofreu mas que a média no DF. Enquanto no Brasil o registrado foi uma inflação de 5%, na capital federal o índice foi de 6,53%. O advogado tributarista Erick Bezerra avalia que a renda média dos habitantes da cidade influencia a conta. “O PIB de Brasília é o mais alto do país. Os preços aqui sobem muito porque a população pode pagar”, explica.

Abaixo da média
Alguns itens tiveram aumento abaixo da inflação, como transportes, com leve alta de 0,04%. Os artigos de residência também sofreram pouco aumento, 0,87%. Dentro deste grupo estão cotados os aparelhos eletroeletrônicos. Foram eles os responsáveis pela maior deflação do período: 5,58%. Ainda segundo o tributarista Erick Bezerra, a variação não representa necessariamente uma queda tão representativa no valor de mercado. “Como os preços já estão muito altos em Brasília, basta que o mercado mantenha o mesmo patamar para que o resultado apresente uma inflação pequena”, explica.

Na média nacional, a pesquisa do IPCA trouxe 15 itens acima da inflação registrada no ano, sobre um total de 28. Já entre os nove grupos, que dividem os setores avaliados, apenas quatro ficaram acima da inflação. São eles: alimentação e bebidas, vestuário, despesas pessoais e educação. Na lista do DF somam-se a estes a inflação sobre a habitação e a saúde.

Índice oficial
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
é medido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele foi criado para apontar a variação dos preços no comércio para o público final e é considerado o índice oficial de inflação do país. A pesquisa abrange famílias com rendimentos mensais compreendidos entre um e 40 salários mínimos (R$ 540 e R$ 21.600).

(Júlia Borba, Correio Braziliense)