Mateiros, no sudeste do Tocantins, era um vilarejo sem luz elétrica em 2000. Uma ponta de mapa na divisa com Maranhão, Piauí e Bahia, lugar esquecido e seco, sem plantação ou criação de valor. Dez anos depois, Mateiros é conhecida como a capital do Jalapão, o deserto mais cenográfico do Brasil. E um polo agrícola emergente.

Graças ao ecoturismo, e a dezenas de milhares de hectares plantados de soja, milho e arroz, a renda média de seus habitantes subiu de R$ 117 para R$ 1.110 por mês entre 2000 e 2010, um pulo de 1.667%, já descontada a inflação. Do 5.417º lugar entre as cidades do Brasil, passou a ser a 53º mais rica. Seu PIB per capita bateu em R$ 45 mil por ano.

Transformações tão revolucionárias são raras, mas em 95% dos municípios houve ganhos de renda reais na década passada. E eles foram proporcionalmente maiores entre as localidades mais pobres. Como consequência, a desigualdade de renda entre os municípios caiu 32%, ao longo dos últimos dez anos.

Em 2000, a renda média dos 1.110 municípios mais ricos era 4,7 vezes maior do que a dos 1.110 municípios mais pobres. Em 2010, segundo novos dados do Censo, essa proporção caiu para 3,2 vezes. Em moeda atualizada, a renda média dos 20% de municípios que compõem a base da pirâmide brasileira era de R$ 155 por habitante por mês em 2000.

Por causa do crescimento da economia, das transferências governamentais à população pobre e dos aumentos sucessivos do salário mínimo, além da inflação, essa renda média dos municípios em situação mais precária pulou para R$ 263. Foi um ganho médio de R$ 108 por habitante.

Ao mesmo tempo, a renda dos 20% de municípios que estão no topo da pirâmide nacional variou de R$ 725 para R$ 839. Foram R$ 114 a mais no bolso dos seus moradores, mas, proporcionalmente, o salto da renda dos mais pobres foi quatro vezes maior. Encurtaram, portanto, as distâncias econômicas e sociais entre o topo e a base.

Como regra geral, quanto mais pobre o município, maior foi seu ganho de renda. E não é difícil entender o porquê. A base de comparação é tão pequena que injetar R$ 100 por mês por habitante equivale a um aumento de 78% na renda média dos 550 municípios que compõem os 10% mais pobres do País.

No interior do Centro-Oeste, esses R$ 100 foram aportados, por exemplo, pela expansão da fronteira agrícola. No Norte e Nordeste, os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, incrementaram os ganhos dos mais pobres. Somem-se os aumentos reais do salário mínimo e seu efeito sobre aposentadorias e pensões e está explicada grande parte do aumento da renda na base da pirâmide.

Distribuição
Olhando-se o mapa da evolução da renda municipal entre 2000 e 2010 fica evidente onde os ganhos foram mais dramáticos. As áreas azuis representam os municípios cuja renda diminuiu ao longo da última década.

Eles estão distribuídos por todo o mapa, mas têm menor incidência no Norte e Nordeste. Nessas duas regiões, mais localidades viram sua renda per capita subir acima da média.

O crescimento médio dos municípios da Região Norte foi de 107% reais, ante 87% da média nacional. De 449 municípios dessa parte do País, 210 (o equivalente a 47%) cresceram acima da média dos municípios brasileiros, e 37 tiveram redução da renda média entre 2000 e 2010. O destaque foi Mateiros (TO), dono do maior crescimento não apenas no Norte, mas em todo o Brasil.

O Nordeste foi a região cuja renda média municipal mais avançou na década: 118% acima da inflação. Nada menos do que 70% dos municípios nordestinos (1.256) cresceram acima da média nacional. Só 24 perderam renda. Proporcionalmente, o maior salto se deu em Centro do Guilherme, no oeste maranhense: de R$ 152 para R$ 543, ou 562% de aumento real.

O crescimento médio dos municípios da Região Sudeste foi de 58%, o mais baixo do País. De 1.666 municípios da região, apenas 391 (23%) cresceram acima da média dos municípios brasileiros. Nada menos do que 152 tiveram redução da renda média entre 2000 e 2010. Álvaro de Carvalho, em São Paulo, registrou a maior alta. Sua renda média pulou 437%, de R$ 179 para R$ 576.

O crescimento foi proporcionalmente maior no interior do que nas capitais. A média de aumento real da renda dessas cidades foi bem baixa: 36% em 10 anos. Mesmo aquela onde o rendimento cresceu mais, Rio Branco (AC), teve um incremento de 62%, inferior à média nacional.

Ajuste: ministério exclui os sem-renda que não são miseráveis

Na contabilidade dos extremamente pobres, o Ministério do Desenvolvimento Social não considerou 2 milhões que vivem em domicílios sem renda, mas, por terem melhores condições de moradia, não se enquadraram no ‘filtro’ que classificou os que vivem na miséria.

O total de brasileiros que vivem em famílias sem rendimento, segundo o Censo 2010, é de 6,8 milhões, divididos em 2,4 milhões de domicílios.

No entanto, foram enquadrados na categoria de miseráveis 4,8 milhões de pessoas que vivem em famílias de renda zero, em 1,6 milhão de domicílios.

A explicação dos técnicos é que a coleta de dados do Censo 2010 se refere à realidade dos domicílios no mês de julho daquele ano.

Famílias que não são pobres podem não ter tido renda naquele período específico, mas isso não significa que viviam em condição de miséria.

(estadao.com)