As férias de julho chegaram, mas é bom se preparar. Este ano, o tão aguardado descanso dos filhos vai pesar mais no bolso dos pais, tenham eles programado viagens ou optado por ficar em casa. Produtos e serviços consumidos avidamente pelas famílias durante o recesso de colégios e universidades superaram a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Brasil) nos últimos 12 meses e estão, em média, 8,18% mais caros. Levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, enquanto o indicador acumulou alta de 6,40%, os custos com passagens aéreas e hotéis subiram 13,71% e 12,83%, respectivamente.

Mesmo o reforço da despensa doméstica com guloseimas e agrados culinários exigirá uma parcela maior do orçamento mensal. Os preços de doces e chocolates aumentaram em 3,10%, enquanto os bolos prontos encareceram 15,19%. A lista de diversões (veja quadro), que inclui parques, cinemas e excursões, aponta uma pressão maior, conforme explicou o economista da FGV André Braz. “A economia está aquecida pelo emprego forte e o incremento da massa salarial. Os preços dos serviços tendem a subir nesse contexto, porque, além de uma maior procura, os prestadores têm que pagar salários melhores a seus funcionários e gastar mais com a estrutura do negócio”, comentou.

Planejamento
Para tentar fugir dos gastos extras, vale usar a criatividade. Ramon Carvalho, 19 anos está de malas prontas para ir a Salvador com a sua irmã, Lígia, 21, a mãe, Gilma, 50, e a prima Gabriela, 8. A família preferiu alugar uma casa do que pagar as hospedagens em hotel. “Tiramos como base para os gastos a minha viagem a Florianópolis, no fim de 2010, na qual a diária custava R$ 250, enquanto, na baixa temporada, sai por R$ 150.

Não quisemos arriscar”, justificou o jovem. Nas passagens aéreas, foram desembolsados R$ 400 por pessoa, valor conseguido graças à antecedência das reservas, feitas em fevereiro. “Olhei há pouco tempo e estão o dobro”, acrescentou.

O professor de finanças do Ibmec-DF Alexandre Galvão ressaltou que a carestia de passeios e outras opções de turismo sofre uma influência adicional, além do aquecimento econômico.

“O agravante, nesse segmento é a falta de estrutura. O aumento da renda e a formalização do emprego dão a mais pessoas a possibilidade de tirar férias, o que requer uma quantidade maior de quartos, hotéis e entretenimento”, ponderou.

Como a migração de brasileiros para a classe média é um fenômeno recente, Galvão lembrou que o ajuste da oferta no setor será gradativo e, enquanto não ocorrer por completo, causará inflação. “Há um mercado muito sedutor para quem pode viajar pela primeira vez, mas a pouca disponibilidade de hotéis, por exemplo, fica mais evidente nas férias, quando há um pico de procura”, esclareceu.

Mesmo para quem prefere ficar na própria cidade, manter as crianças em casa é complicado. A comerciante Angeline Santana, 29 anos, aproveitou a primeira semana de férias do filho, Artur, 9, e da sobrinha Thainara, 11, para levá-los ao parque de diversões e gastou mais do que em outros anos. “Em um dia, foram mais de R$ 100. A entrada, que geralmente custa R$ 20, dessa vez estava em R$ 30”, queixou-se. O aperto sentido no bolso por Angeline é confirmado pela FGV. O ingresso dos parques acumulou alta de 6,75% em 12 meses, crescimento acompanhado, em maior medida, pelos refrigerantes fora de casa e sanduíches, inevitáveis no passeio — que encareceram 9,46% e 9,25%, respectivamente. “A bebida é mesmo muito cara e eles gostam de comer fora. Não tem jeito”, admitiu.

Reservas
Uma forma de evitar endividamento excessivo na época das férias é fazer uma provisão de gastos antecipadamente, segundo avaliação de André Braz. “Há um aumento nos custos, mas é completamente previsível. Uma vez que todos sabem que o recesso vem em julho e em dezembro, é bom que se faça uma reserva com o máximo de antecedência para financiar o lazer sem descontrolar as contas”, recomendou. Embora os preços estejam acima dos anos anteriores, a tendência é de que as pessoas continuem consumindo, na avaliação de Galvão. “Não vejo sinais de redução do ímpeto de compra. A expectativa da economia ainda é otimista, especialmente para esses setores”, ponderou.

(Gabriel Caprioli, Correio Braziliense)