A maioria das dívidas dos moradores do Distrito Federal cujos nomes estão na lista do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) tem valores entre R$ 250 e R$ 500. É o que revela o levantamento da inadimplência por faixas de débito iniciado há quatro meses pela Câmara dos Dirigentes Lojistas do DF (CDL-DF), responsável pela administração do SPC. Em agosto, 36,29% dos 142.465 consumidores negativados deviam montantes inseridos nesse patamar. Endividamentos mais altos, acima de R$ 500, vieram em segundo lugar, correspondendo a 28,89% do total cadastrado. O terceiro posto, com 23,33% dos inscritos, coube a quem tem compromissos por quitar de R$ 100 a R$ 250. O ranking foi o mesmo observado em maio, junho e julho (veja Quadro).

O presidente da CDL-DF, Geraldo Araújo, considera os resultados dentro das expectativas. “A maior parte dos devedores está inserida nas classes C e D. São pessoas que passaram a ter acesso a cartões e crediários”, diz. De acordo com ele, trata-se de um grupo cujos débitos saem do previsto eventualmente, mas que não deixa de resgatar o compromisso. “Você percebe que a principal intenção é poder voltar a comprar”, comenta.

O economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), destaca que o endividamento das famílias está concentrado principalmente nas classes média e média baixa pelo fato de elas terem sido as maiores beneficiárias do acesso facilitado a empréstimos registrado nos últimos anos. “Naturalmente, essas pessoas serão as mais atingidas (pela inadimplência), pois foi entre elas que mais cresceu o crédito”, avalia.

Ramos ressalta que a formalização do mercado de trabalho e a economia estável foram os principais desencadeadores da enxurrada de crédito. Para o economista, apesar de analistas de mercado demonstrarem preocupação com o comprometimento da renda, a questão não representa um risco real para o Brasil. “O mercado de trabalho ainda tem indicadores muito bons. Enquanto o país estiver crescendo, haverá um equilíbrio. O grande problema será se houver uma forte desaceleração ou um aprofundamento da inflação. Aí sim, será complicado, com famílias sem condições de quitar seus débitos”, afirma.

Brasileiros contemplados pela onda de crédito em geral enfrentam problemas com dívidas quando são pegos por imprevistos. Despesas extras no mês e perda do emprego estão entre os principais motivos para a inadimplência. O segundo problema deu dor de cabeça ao copeiro José Roberto Leal Lopes, 28 anos. Em 2006, ele comprou uma televisão parcelada no cartão de crédito. No entanto, como na época saiu do trabalho, só teve condições de pagar três de 10 prestações de aproximadamente R$ 70. Hoje, novamente contratado, vai tentar negociar o débito. “Espero que eu consiga. O valor subiu muito por causa da taxa de juros”, comentou.

A auxiliar de laboratório Vanúbia da Silva de Oliveira, 37 anos, conta que ela e o marido fazem cálculos mensais para que as prestações de cartões de loja e do cartão de crédito não estourem o orçamento. “A gente está aprendendo a lidar. É difícil, porque, às vezes, a parcela é pequena e você acha que vai dar conta. Mas basta um imprevisto para desestabilizar”, diz.

Sem variação
Em agosto de 2011, a taxa de inadimplência registrada pela CDL-DF, de 4,9%, foi idêntica à do mesmo mês de 2010, mas caiu frente a julho deste ano, quando o patamar ficou em 5,1%. De acordo com o presidente da entidade, Geraldo Araújo, é comum que nessa época do ano o índice recue. “O consumidor está se preparando para o Natal. O índice deve ficar baixo até dezembro ou janeiro, e volta a subir em fevereiro”, diz.

(Mariana Branco, Correio Braziliense, 6.09.11)