Você sabia que os programas de humor de rádio e televisão estão proibidos de debochar dos candidatos nessas eleições? Pois é: a política, material farto para a sátira, tornou-se vaca sagrada, intocável. No auge da ditadura militar, o pessoal da farda não tinha lá muitos motivos para que rissem deles, mas, no final, às vésperas da Nova República, governo e políticos tornaram-se alvos preferenciais. Dona Solange Teixeira Hernandes, a doce senhora que personificava a censura oficial, fora afinal vencida.

Mas, hoje, nada explica não poder fazer graça com os políticos. Para os humoristas é como voltar a 30 anos atrás. A proibição está na Resolução 23.191, publicada no Diário da Justiça eletrônico, em 31 de dezembro. Dispõe que em época de campanhas eleitorais, os humoristas estão proibidos de usar qualquer artifício que ou degrade ou ridicularize os políticos.

“Acho um absurdo. Se começa a acabar com a liberdade de expressão, é censura. O papel do humorista é ser um cronista do cotidiano. Questionar, criticar o que acontece em todas as áreas”, reclama Victor Leal, da Cia. da Comédia Os Melhores do Mundo. Mas ele já disse que, como no teatro a fiscalização é menos eficiente, vai continuar a satirizar a turma de parlamentos e governos.

Leônidas Fontes, da Cia. de Comédia Setebelos, também acredita que voltou-se à época da censura. Para ele, pelo fato de os políticos serem pessoas públicas, os humoristas têm o direito retratá-los de forma debochada. “Eles não estão acima do bem e do mal. Por isso temos o direito de brincar, utilizando do humor inteligente”.

Para Leônidas, os políticos foram colocados onde estão pela sociedade, da qual fazem parte. Por isso, é total o direito de retratá-los de forma jocosa. “São nossos empregados, pagamos o salário deles. Temos total direito de fazer esse tipo de humor. O que eles fazem é mais agressivo do que a crítica que fazemos deles”.

(Fonte: Da redação do Jornal de Brasília)