Do total de idosos que morreram nas ruas da cidade no ano passado, 50% eram pedestres. Este ano, das 22 vítimas, 13 delas — ou 59% — foram atropeladas. Para reduzir os acidentes envolvendo pedestre, o órgão de fiscalização tem investido em campanhas educativas, na sinalização das ruas, bem como na instalação de quebra-molas. Mas segundo o chefe da Fiscalização do Detran, Silvain Fonseca, para evitar mortes é preciso que tanto motoristas quanto pedestres respeitem o Código Brasileiro de Trânsito. “O motorista não pode esquecer que também é pedestre.”
De acordo com Fonseca, nem sempre o condutor é o principal culpado pelo atropelamento. “Cerca de 60% dos pedestres com mais de 40 anos que morreram nos últimos anos estavam sob o efeito de álcool”, destacou o chefe da Fiscalização. Mas em muitos casos, os idosos são vítimas da imprudência e da irresponsabilidade. Foi o caso da mãe do representante comercial Izaque Martins Machado, 48 anos. Em maio do ano passado, a dona de casa Iracema Martins, 68, caminhava pela calçada quando foi atingida por um motorista embriagado na pista marginal da via Estrutural. O condutor do Kadett cinza JDT-4694/DF, o frentista Otávio Pereira Sampaio, 41, fez o teste do bafômetro, que acusou 1,03mg de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. O acusado foi preso em flagrante e pode pegar até 30 anos de prisão por homicídio doloso (por ter assumido o risco de matar dirigindo embriagado).
“Eu e minha família nunca vamos nos conformar com essa situação. Minha mãe era muito lúcida e extremamente cuidadosa no trânsito”, disse o filho, indignado. Para ele, a culpa pelos acidentes é dos motoristas, na maioria das vezes. “Os idosos não têm o raciocínio rápido, mas também não são imprudentes”, afirma Izaque.
Há três anos, a aposentada Maria da Conceição dos Santos, 70 anos, levou um susto no centro de Taguatinga. Ela tentava atravessar uma pista quando sentiu o retrovisor de um carro bater em seu braço direito. O motorista fugiu sem prestar socorro. “Meu braço ficou roxo e por muito tempo fiquei sentindo dores. Desde aquele dia, eu sou mais cuidadosa ao andar na rua. Olho de um lado e do outro para ver se não tem carro vindo”, garantiu.
Regras
O artigo 29 do Código Brasileiro de Trânsito prevê que os motoristas devem proteger o pedestre, por ele ser a parte mais frágil. Isso, portanto, não significa que o condutor será sempre o culpado. O artigo 254 do CBT proíbe, desde 1998, o pedestre de andar no meio da rua ou fora da faixa própria, passarela ou passagem subterrânea. Quem desobedecer à lei está sujeito à multa de R$ 26,60.
Memória
1 de julho de 2010 – Agostino Ferreira da Silva, 77 anos, foi atropelado por um ônibus da Rápido Brasília em frente a um ponto de ônibus na Avenida Central da Vila São José, em São Sebastião, por volta de 13h30. O motorista do veículo fez ocorrência na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho). A vítima foi levada no helicóptero do Corpo de Bombeiros para o Hospital de Base do Distrito Federal. Agostino teve fraturas sérias nas pernas e precisou passar por uma cirurgia.
28 de junho de 2010 – O aposentado João Basílio de Figueiredo, 75 anos, morreu após ser atropelado por um carro, quando tentava atravessar a BR-251, próximo a São Sebastião. O acidente ocorreu no Km 32 da rodovia, sentido Unaí (MG). De acordo com a Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade) do Corpo de Bombeiros, o acidente ocorreu entre as 12h30 e as 13h e a vítima morreu no local.
14 de maio de 2010 – Nestina Geraldina de Jesus, 83 anos, morreu ao ser atropelada por um carro na BR-060, sentido Samambaia-Plano Piloto, na altura da QR 525, em Samambaia. A idosa estava acompanhada da filha e tentava atravessar as três faixas da rodovia. Eram 6h50 e as duas aguardavam, entre a segunda e a terceira faixa, o momento de completar a travessia. A filha teria hesitado mas, com a ajuda de um bengala, a mãe dela seguiu. Ela foi atropelada e arrastada por cerca de 15 metros.
8 de julho de 2009 – Um senhor de 82 anos foi atropelado na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), por volta das 5h. José Gomes da Costa foi atingido por um Audi prata, em frente à Igreja Ministério da Fé. O idoso morreu no local. José Gomes seguia em direção a uma loja de material de construção, onde trabalhava. O veículo atingiu a vítima próximo a um semáforo Em seguida, o motorista perdeu o controle do carro, rodou cerca de 70 metros e bateu em uma placa de sinalização. Levado à 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), com sinais de embriaguez, o condutor do veículo, Pedro Gabriel Dias Melo, 21 anos, se recusou a fazer o teste do bafômetro.
Vítimas de todas as idades
Não são apenas os idosos que sofrem com os atropelamentos. Pedestres de todas as idades — incluindo crianças — são a parte mais frágil do trânsito. No primeiro quadrimestre deste ano, 141 mortes foram registradas, contra 134 no mesmo período de 2009. Em 2010, uma média de 34 pessoas morreram por mês, contra média de 33 casos no ano passado.
Na faixa etária de risco estão jovens entre 20 e 29 anos. O grupo representou 24% das 424 mortes registradas no ano passado. Crianças e adolescentes somaram 48 mortes no ano passado. Do acidente de trânsito que sofreu há 10 anos, Marcos Lameira Moreira, 26 anos, tirou uma lição. Ele aprendeu que o carro pode ser uma arma, muitas vezes letal. Quando tinha 16 anos, o jovem pedalava pela QSB 3 de Taguatinga Sul, quando foi atingido por um motociclista que pilotava na contramão.
“Estava descendo a rua de casa e a moto acabou me a atropelando. Caí no chão e tive fratura exposta nos dois braços, quebrei o nariz e a mandíbula em três lugares e tive traumatismo craniano”, contou o rapaz, aliviado por ter sobrevivido. Marcos ficou seis meses com os braços engessados e foram necessários 12 meses de fisioterapia para recuperação. “Fui atropelado na minha faixa, mas estava andando bem rápido de bicicleta. O condutor estava querendo testar a potência da moto que tinha acabado de sair do conserto. Se nós dois não estivéssemos tão rápido, talvez esse acidente não teria acontecido”, acredita.
Hoje, Marcos tentar tomar cuidado, principalmente ao andar de bicicleta. “Prefiro ficar com o carro. Depois do meu acidente, aprendi a ter cuidado redobrado com moto, pedestre e ciclista. Acho que como motorista estou mais protegido”, ensinou.
Vulneráveis
Confira a quantidade de acidentes fatais em 2009 e neste ano e o número de idosos que perderam a vida nas ruas
Acidentes fatais:
2009 – 383
2010 (janeiro a abril) – 129
Número de mortos:
2009
janeiro 28
fevereiro 29
março 42
abril 35
1º quadrimestre: 134
Total anual: 424 mortes
2010
janeiro 44
fevereiro 29
março 36
abril 32
1º quadrimestre: 141 mortes
Número de idosos mortos
2009
60 anos ou mais 50 casos
2010 (até abril)
60 anos ou mais 22
(Fonte: Mara Puljiz, Correio Braziliense)