Não são doenças causadas vírus e bactérias ou acidentes que vêm chamando atenção como razões de afastamentoa do trabalho no país. Os chamados transtornos mentais e comportamentais, que incluem depressão e abuso de drogas, já são a terceira maior causa de licenças com auxílios-doenças concedidas pelo INSS no país. Em 2007, eram 141 mil casos. Em 2011, esse número passou para 198 mil — um crescimento de 40%.

Os números levam em conta apenas casos em que o afastamento foi causado por problemas originados do trabalho, gerando benefícios acidentários. Há também motivos não ligados ao emprego, mas que adoecem o funcionário e o afastam de suas funções. Só em 2011, foram outros 198 mil casos (auxílios previdenciários).

O diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência Social, Cid Pimentel, diz que esses problemas estão crescendo no país e no mundo.

— Os fatores que levam a essas doenças não são tão simples. A pressão no trabalho, por exemplo, pode ocasionar estresse em algumas pessoas, enquanto outras vão saber lidar com isso. Os sintomas também não aparecem só no emprego, mas com a família e os amigos, ou na vida sexual — explicou.

Assumir que está com um problema como esse ainda é complicado, lembra a psiquiatra Maria Fátima de Vasconcellos, da Câmara Técnica de Psiquiatria e Saúde Mental do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj).

— Além da dificuldade de aceitar esse quadro, o trabalhador com depressão ainda conta com a incompreensão dos outros, que não percebem que suas ações são decorrentes dos efeitos da doença — disse a psiquiatra, explicando que, hoje, a aceitação dos transtornos já é melhor do que no passado.

O psicólogo André Martins, do Conselho Regional de Psicologia no Rio (CRP-RJ) também lembra que é preciso analisar a questão como um problema social. Na nossa cultura do individualismo, explica ele, falta espaço para refletir.

— Para um dono de empresa, é mais fácil encaminhar seus funcionários para tratamento do que se perguntar por que 20% deles está com problema.

(Mário Campagnani, Extra Online, 29.05.12)