Para quem acredita que Brasília é a capital dos concursos públicos, a afirmação é correta. A cidade abriga grande quantidade de concurseiros, concursados e ainda a que oferece maior renda. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), existe um abismo entre o salário pago ao trabalhador brasiliense da iniciativa privada e ao servidor público. A diferença é de 4,5 vezes. Enquanto  o rendimento do servidor público esteve em R$ 5.547 no mês de maio,  o salário no setor privado registrou média de R$ 1.255.


Sonhando em alcançar essa renda, uma média de 350 mil pessoas do Distrito Federal está estudando para concurso, segundo o diretor-presidente do Gran Cursos, José Wilson Granjeiro. Hoje, o setor é formado por 277 mil pessoas, e sofreu um aumento de 6,9% (ou 13 mil postos) em relação o mesmo período de 2011, quando eram 264 mil.


O servidor público Marcelo André Júnior, 35 anos, faz parte desta parcela de trabalhadores. Trabalhando naadministração pública há mais de três anos, ele afirma que esse é o caminho para se ter estabilidade financeira.  “Trabalhei muitos anos no setor privado e era muito sobrecarregado, com hora para chegar, mas não para sair, além do salário atrasar. Por isso, decidi estudar e me tornar servidor”, conta.

 

 


Marcelo é funcionário do Governo do Distrito Federal. Recebe uma média de nove salários mínimos e diz viver de forma confortável com esse valor. “Trabalho em escala de 24h por 72h e isso me dá tempo para estudar e fazer minhas coisas. O salário também me satisfaz e ainda sai em dia. Como sou solteiro e tenho apenas uma filha, o salário para mim está muito bom”, comenta o servidor.

 


Na contramão deste cenário está a auxiliar de serviços gerais Leila Costa.  No setor privado,  ela recebe um salário mínimo e por enquanto, mesmo sendo solteira, o valor tem sido suficiente.  “Acho que o serviço público tem mais vantagens do que o privado, mesmo eu tendo férias, 13º salário e os benefícios de ter a carteira assinada. A questão é que não tenho estabilidade, pois eles podem me mandar embora de repente. Mas, para mim, que sou solteira, moro com minha mãe, o salário me sustenta”, explica.

 


De acordo com o diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), Júlio Miragaya, essa grande procura pelo setor público influência até no Produto Interno Bruto (PIB). “O PIB do DF em 2010 e 2011 foi aquém do nacional, pois foram puxados pela indústria e agropecuária. Ambos têm pouca participação no DF. Ou seja, é o samba de uma nota só, pois dependemos apenas desse segmento. Isso nos mostra a debilidade do setor privado e o alto rendimento do público. E sinaliza que Brasília é realmente a capital dos concurseiros”, afirma.


Segundo o presidente da Codeplan, Salviano Guimarães, Brasília tem o vício do funcionalismo público, mas a tendência é de estabilizar. “Concurso agora é para cobrir aposentadoria e com isso, a oferta será menor”, conta.

 

(Kamila Farias, Clica Brasília, 28.06.2012)