As apresentações sobre a reestruturação do Sistema Eletrobras iniciaram, gerando um clima de preocupação e apreensão nas empresas. Wilson Pinto Ferreira Junior, ex-CPFL, que agora completou 117 dias como Presidente da maior empresa de energia elétrica da América Latina, trouxe consigo a missão de desfazer, pouco a pouco, a imagem da Eletrobras e de seus trabalhadores/as perante a sociedade.

Ao desembarcar na Eletrobras, gerou expectativa de novos rumos, novas metas e melhorias na gestão, mas, até o momento, só o que temos são declarações desastrosas na mídia, promessas de demissão, licitação rebaixada da CELG ainda em 2016, desestatização das demais distribuidoras em 2017, (re)contratação da Roland Berger sem licitação, e o assustador estímulo à divisão interna entre os trabalhadores/as.

Muita propaganda, pouca transparência interna, muitos boatos, poucas respostas. O clima organizacional é assustador; nos corredores, só se fala da existência de listas: “novos”, “velhos”, “maiores de 55”, “aposentáveis, “pidáveis”, “exoneráveis”, “sem cargo”, “devolvíveis”, “requisitados”, “anistiados”, enfim, listas para todos os gostos. Os trabalhadores/as precisam reagir e se opor a essa tentativa de divisão e acreditar que a unidade é o único caminho que pode fazer frente às dificuldades.

Um verdadeiro líder agrega, busca a harmonia e o bem estar de toda a empresa e de seus liderados. Mas, ao contrário, o presidente Wilson prepara um choque de gestão às avessas, desengonçado e desagregador, com uma clara aposta no “salve-se quem puder”. A omissão dos demais Diretores da holding e de suas subsidiárias é espantosa, inclusive da Eletronorte. A diretoria colegiada passou a ser um “faz de conta”, uma claque que só tem atuado para desqualificar o quadro de pessoal e destruir a memória técnica das empresas. Da mesma forma, as Diretorias das empresas subsidiárias atuam apenas concordando cegamente com as diretrizes que vêm da holding, sem defender suas particularidades.

Um verdadeiro líder preza pelo diálogo, busca ouvir para traçar o rumo. Mas, parece que o presidente Wilson confunde humildade com submissão – não gosta muito de ser questionado em suas decisões, mesmo quando estas resultam em claro descumprimento de acordo coletivo. É o caso específico dessa reestruturação às avessas. Nosso ACT Nacional, em sua cláusula 41ª, prevê o debate das questões institucionais; especificamente no caso da Eletronorte, em sua cláusula 43ª, prevê que empresas e sindicatos buscarão equacionar os problemas institucionais. A Federação Nacional dos Urbanitários já solicitou reunião com a Diretoria da Eletrobras para tratar dessa reestruturação – o Sindinorte ratifica essa solicitação.

Sabemos que o setor elétrico é estratégico para o desenvolvimento e crescimento do país. Tanto é assim, que a Eletrobras sempre atuou como agente fomentador do Estado em cada canto deste país. Comparar a Eletrobras, e seu papel enquanto Estatal, a empresas privadas é, no mínimo, uma insensatez. A atuação da Eletrobras é diretamente responsável pela segurança nas fronteiras do país, por programas de uso eficiente e combate ao desperdício de energia (PROCEL), pelo programa Luz para Todos. A atuação de empresas privadas visa, única e exclusivamente, o lucro e a distribuição de dividendos aos acionistas. Dá para enxergar a diferença? É esse indicador que o presidente quer perseguir? Ou tudo não passa de uma preparação para a privatização da Eletrobras?

Você sabia?

A licitação da CELG teve redução do seu valor mínimo. Espera-se facilitar a compra pelos agentes do mercado, inclusive os chineses compradores da CPFL.

A consultoria Roland Berger, velha conhecida da Eletrobras, foi contratada a um custo de mais de 9 milhões, sem a realização do devido processo licitatório.

O Decreto 8.893, de 1º de novembro de 2016, dispõe sobre os empreendimentos do Programa de Parcerias de Investimentos – PPI, que serão tratados como prioridade nacional nos setores de energia – dentre eles as 6 distribuidoras federalizadas do Sistema.


QUE DESESTRUTURAÇÃO É ESSA?

 

CSC – Centro de Serviços Compartilhados

A proposta é criar um centro para compartilhar as atividades adminis-trativas e financeiras. A princípio, parece ser uma boa idéia. Mas, como seria esse compartilhamento? Quem está estudando essa implantação? Qual será o impacto sobre o trabalho das pessoas? A Eletronorte até que tentou fazer um centro de compras compartilhado, mas, por motivos práticos, inclusive dos mercados locais, teve que voltar atrás.

PCR e SGD

Em diversas oportunidades, o Presidente Wilson disse que não se pode confiar no SGD (que é unificado em todo o sistema), desmerecendo todo o trabalho realizado por uma equipe multidisciplinar, prata da casa, sem con-tratação de consultoria externa. A equipe foi até onde a gestão, à época, permitiu. Como todo processo, revisões são necessárias – no caso, até pre-vistas no ACT – porém, a Direção da Holding nunca quis discutir isso. É muito desrespeito jogar por terra, dessa maneira, o trabalho desenvolvido seriamente por competentes equipes em todas as empresas. É necessário rever processos e atualizá-los, criar as especificações das funções, finalizar o quadro qualiquantitativo por empresa, definir regras mais objetivas ao SGD – esses são pleitos antigos das entidades sindicais. Qual a real intenção em desmerecer totalmente o trabalho realizado pela prata da casa? Será que já há alguma consultoria externa, em vista, para criar um novo PCR?

Trabalhadores/as requisitados/as

O presidente anunciou que encerrará todas as cessões de trabalhadores/as de outras empresas à holding, des-considerando os prazos previstos no processo de cessão e a situação das famílias. Ao ser questionado, colocou que a cessão não findaria imediata-mente, mas que o trabalhador teria um prazo dois meses para voltar à sua empresa de origem. Entretanto, caso a cessão seja encerrada antes da data prevista, os sindicatos entrarão com pedido de liminar para garantir que seja cumprido todo o prazo, dando maior tempo para que o trabalhador/a reequilibre sua vida.

Mobilidade interna

Ao resolver findar as cessões à Eletrobras, põe-se por terra a tão sonhada mobilidade entre as empre-sas. Para quem não se recorda, um dos atrativos do PCR unificado era exatamente a possibilidade de migrar de uma empresa para outra, inclusive sem custos adicionais para qualquer uma elas. Essa nova postura por parte da holding vai na contramão do que a própria empresa defendeu. Alterações na gestão não deveriam afetar as políticas internas, sob o risco da des-continuidade de processos importan-tes. Por que não converter as cessões em novas práticas de mobilidade?

Estabilidade e privatização da geração e transmissão

Quando questionado sobre o assunto de horas-extras, ficou claro que o presidente é contrário à estabilidade de emprego dos trabalhadores/ as do Sistema. Ainda, gerou polêmica ao afirmar que, após a privatização das distribuido-ras e as demissões nas empre-sas geradoras e transmissoras, caso estas não apresentem resultado promissor em dois anos, seus ativos também poderão ser privatizados, bem como as SPE’s.

SPE’s: em reunião com o Coletivo Nacional dos Eletricitários, foi dito que há a pretensão de venda das SPE’s nas quais Furnas seja minoritária. Cogita-se a venda das ações de Belo Monte. Como será a tratativa para as SPE’s da Eletronorte?


Não se dá cavalo de pau num transatlântico.

O bom capitão planeja a rota colhendo informações da tripulação.


Não vamos permitir que a Eletrobras naufrague.

Com unidade e competência, os eletricitários/as saberão driblar as adversidades.