Durante três horas, tempo em que permaneceu reunido com os trabalhadores e trabalhadoras da sede da Eletronorte em Brasília, nesta quarta-feira (16), o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, apresentou o modelo de reestruturação que pretende implementar na empresa a partir de primeiro de dezembro.

Wilson Junior, que está à frente da Presidência da Eletrobras a 100 dias, apresentou um Power Point sobre a situação financeira da Holding e da Eletronorte e disse que fará vários cortes. Disse ainda que as sete distribuidoras federalizadas serão privatizadas e que a venda de todas deve ser concluída em 2017. Antes disso, comunicou que venderá ativos e patrimônio das empresas.

Também informou que vai reduzir o número de empregados. Em até 60 dias, deve fazer um Plano de Aposentadoria Incentivada (PAI) e posteriormente, uma Plano de Incentivo a Demissão Voluntária (PIDV), que já está sendo elaborado.

Segundo Wilson Junior, a empresa vai focar na geração e transmissão. “Após a redução do quadro, vamos ver se conseguimos atingir a meta. Se não conseguirmos, vamos nos desfazer de alguns ativos e patrimônios”, disse o presidente para o auditório lotado e também em vídeo conferência para regionais da Eletronorte. Por essa declaração, fica evidente que geradoras e transmissoras também poderão ser privatizadas.

Dirigentes sindicais do STIU-DF fizeram ponderações sobre o patrimônio humano dos técnicos da Eletrobras, em particular da Eletronorte, e que as empresas perderão muito com a saída desses profissionais. “Em relação à Amazônia, temos na Eletronorte um corpo técnico especializado com grande potencial. Como prescindir dessa mão de obra especializada?”, questionou o diretor do STIU-DF, José Daldegan.

O presidente também foi questionado em relação às notícias veiculadas na mídia sobre privatizações de empresas de geração. Ele negou e disse ser boatos. Ainda sim, os sindicalistas avaliam que os trabalhadores precisam ficar atentos. “Apesar das negativas que vimos hoje, sabemos que muitas decisões vêm lá de cima, do governo, e os gestores apenas cumprem ordens”, chama atenção a diretora do STIU-DF, Fabiola Antezana.

O trabalhador aposentado da Eletronorte, Emídio da Costa Neto, também foi na mesma linha. “Se isso for verdade e as empresas de geração forem privatizadas, ficando apenas as transmissoras estatais, teremos uma demissão em massa aqui”, alertou.

Ao ser perguntado pelo dirigente sindical da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Boréu de Alcântara, se seria possível criar um grupo entre direção da empresa e trabalhadores para implementar as mudanças de forma gradual, sem prejudicar os empregados, o presidente respondeu sem afirmar positivamente. “Estamos abertos para receber sugestões, mas os diretores têm autonomia para fazer o que deve ser feito”, disse. “E por não ser político estou cacifado para implementar essa estruturação a todos, sem exceções”, complementou Wilson Junior.

Ao questionar o discurso de caráter exclusivamente deficitário do presidente, Daldegan lembrou que diferentemente das empresas privadas, as empresas públicas têm um grande papel para o desenvolvimento do País que não foi considerado. “A finalidade de uma estatal não é só dar lucro, existe um equívoco conceitual aqui. Ao que foi entendido como falta de eficiência é, na verdade, o preço de uma grande ajuda ao País, contribuindo com a modicidade tarifária e o atendimento as comunidades isoladas. Por isso as usinas do sistema nunca foram realmente amortizadas”, acrescentou.