Ao ignorar as vozes da população, que emanam mais de 90% de rejeição ao governo, os deputados arquivaram ontem (2), por 263 votos, a denúncia criminal feita pela Procuradoria-Geral da República contra Temer, acusado de corrupção passiva. Temer se tornou o único presidente do País denunciado no exercício do cargo.

Se por um lado a votação parece revelar que Temer ainda tem força para concluir o mandato até 31 de dezembro de 2018, por outro, mostra que o governo não tem quórum para aprovar a proposta de reforma da Previdência, que precisa de 308 votos.

“Do jeito que está não passa. Provavelmente vai precisar ser bastante modificada”, avalia a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal De São Carlos (Ufscar).

Mas de acordo com o dirigente sindical do STIU-DF, Victor Frota, não se trata nem de modificação na proposta de reforma da Previdência. Para ele, a única saída para o País é a realização imediata de eleições diretas para presidente, deputados e senadores.

“Independentemente de bandeiras partidárias, as trabalhadoras e trabalhadores precisam se mobilizar para rejeitar de uma vez essa proposta de reforma previdenciária, assim como revogar outras, como a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita. Com esse Congresso contaminado e um presidente ilegítimo e corrupto, a única solução é o País realizar diretas já”, avalia.

Na contra mão dos interesses da população, os deputados estão preocupados em se reeleger no ano que vem, uma vez que muitos parlamentares precisam de foro privilegiado para continuar impunes, os deputados não querem se desgastar ainda mais com o eleitorado. Inclusive, Temer perdeu mais de 60 votos de sua base aliada ontem.

Partidos que vêm sustentando o governo, aprovando matérias que estão retirando direitos dos trabalhadores, como o PSDB, DEM, PSD e o próprio PMDB, partido de Temer, deram 46 votos pela continuidade das investigações.

O quadro pode ficar bem mais imprevisível para Temer com a próxima denúncia do procurador-geral da República. O surgimento de novas delações também pode piorar a situação do governo.

Ainda sim, os principais aliados de Temer se apressaram ontem para dizer que a reforma da Previdência será prioridade. “Temos que retomar e concluir a reforma da Previdência”, afirmou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também delatado na Lava Jato como recebedor de propina.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também acusado de receber propina da Odebrecht, disse que o governo precisa juntar os cacos após a votação. “O governo teve mais de 250 votos para barrar a denúncia. Em relação há 3, 4 semanas, foi um bom resultado para o governo, mas, olhando para o futuro, precisa reorganizar a base para que a gente possa aprovar as reformas”, disse.