Chegou o tempo da gastança. O maior nível de ocupação desde 1992, a forte expansão da renda dos trabalhadores e a abundância do crédito impulsionam como nunca o consumo no Distrito Federal neste fim de ano. O varejo, com estoque reforçado e um batalhão de empregados temporários, espera o melhor Natal da história. E, ao que tudo indica, terá. Os brasilienses receberão o maior valor médio do 13º salário do país. A correria para limpar o nome na praça não é à toa: os consumidores querem liberdade para comprar.

A inadimplência da pessoa física vem diminuindo e tende a cair ainda mais até a virada do ano. Em setembro, último mês pesquisado pela Câmara de Dirigentes Lojistas do DF (CDL-DF), o índice que mede o calote no varejo candango ficou em 4,8%: 130.201 pessoas resolveram suas pendências e se livraram da condição de inadimplente. Em contrapartida, 136.450 nomes foram incluídos no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). A previsão é que, em outubro, o número de devedores recue em torno de 0,4 ponto percentual.

No balcão de atendimento da CDL, no Setor Comercial Sul, onde o consumidor descobre se está ou não com o nome sujo na praça, o movimento costuma aumentar em 50% no fim do ano. “Todo mundo que tem dívida nos procura para tentar solucionar o problema”, comenta o vice-presidente da CDL-DF, Geraldo Araújo. A consulta ao cadastro do SPC é feita apenas pessoalmente. O serviço é gratuito. Em tese, o nome é retirado da lista de inadimplentes 24 horas depois de a dívida ser quitada ou mesmo negociada.

Para aumentar o grupo de potenciais compradores às vésperas do Natal, os comerciantes se mostram interessados em ajudar os devedores. Nesta época do ano, os principais varejistas costumam recorrer a seus bancos de dados para checar a lista dos maus pagadores. Em seguida, surge a ordem para que funcionários entrem em contato com os clientes, oferecendo facilidades para resgates de débitos pequenos. “O interesse da loja é que aquela pessoa resolva sua pendência e volte a comprar”, diz Araújo.

O maranhense Orlando Mendonça, 23 anos, manteve o nome sujo na praça por três anos, por conta de uma dívida de R$ 129, referente à mensalidade de um curso. “Dava até para ter pago antes, mas fui empurrando com a barriga”, reconheceu. Pai de um garoto de 1 ano, o jovem quer comprar presentes para o filho e para os familiares mais próximos neste fim de ano. E ainda pretende renovar alguns móveis da casa. “Agora vou ter que pagar, não tem jeito. Só não posso é ficar devendo de novo, né?”, disse.

Na semana passada, ao tentar financiar uma moto, o autônomo Edneu Fonseca, 27 anos, descobriu que estava devendo. Acompanhado da mulher, Cléa Cruz, 19, e da filha de 1 ano, foi logo ao balcão de atendimento do SPC e recebeu uma certidão em que não constava débito algum. Fonseca saiu dali com a orientação de procurar a Serasa (mantida por instituições financeiras). Geralmente, o nome do devedor aparece no cadastro das duas entidades, mas pode ser que isso não ocorra. “Vou resolver isso. O bom é ter o nome limpo”, comentou.

Mais dinheiro
Com a indimplência em queda, as facilidades de pagamento e o 13º em circulação, é de se esperar um fim de ano muito movimentado em lojas e shoppings de Brasília. De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado no fim do mês passado, o montante injetado na economia local com o 13º salário em 2010 será de R$ 4,15 bilhões, um volume 24% superior ante 2009. Cerca de 1,4 milhão de trabalhadores serão beneficiados.

Projeções da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram que 35% do 13º salário ajudarão os brasileiros a quitar dívidas. Outros 50% do benefício serão torrados nos presentes. Os 15% restantes devem ir para a poupança. Para o especialista em educação financeira Luciano Miranda, sócio da Ação Dall´Oca, empresa brasiliense vinculada à XP Investimentos, a destinação do 13º deve seguir a seguinte ordem: pagamento de dívidas, poupança (seja ela de que forma for) e, por último, novas despesas.

Miranda acredita que o brasileiro se endivida muito porque ainda não aprendeu a lidar com o dinheiro. “As pessoas insistem em repetir o mesmo erro: não pensam no futuro e gastam mais do que recebem. Simplesmente não há planejamento”, comentou. Para quem viu as dívidas virarem uma bola de neve, a dica é priorizar a quitação dos débitos para, depois, começar do zero. “A negociação das pendências também é do interesse das lojas. Vale a pena correr atrás”, lembra Miranda.

Mais emprego
O desemprego no DF atingiu em setembro o menor índice desde o início da série histórica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 1992. A taxa recuou pelo quarto mês consecutivo e chegou a 13%, contra 13,4% em agosto.

Cadastro
O SPC reúne informações de inadimplência dos consumidores referentes a duplicatas, carnês, financiamentos, cartões de crédito, mensalidades, anuidades, condomínios e outras dívidas. Os dados são incluídos por empresas associadas, como bancos, financeiras, lojas e supermercados.

COMO USAR O SALÁRIO EXTRA

» Pague as dívidas. Para os endividados, essa é a melhor destinação do dinheiro extra. Mesmo que não seja possível quitar todas, escolha as mais caras e as do cheque especial e de cartões de crédito, por exemplo. Negocie descontos, principalmente para contas antigas.

» Lembre-se das despesas do início de ano. Se não tiver dívidas, guarde para o pagamento de impostos como IPTU e IPVA e para o material e uniforme escolares dos filhos.

» Poupe. Destine parte do 13º para poupança ou qualquer outro tipo de investimento que o prive do gasto imediato e impulsivo do dinheiro.

» Pense nos seus planos e projetos para o ano seguinte: troca de carro, compra da casa própria, cursos.

» Claro, não se esqueça dos gastos com as festas de fim de ano, como ceias e presentes.

SAIR DO CADASTRO

» Para tirar o nome do SPC, o consumidor deve procurar o credor — loja, financeira ou banco —, renegociar ou pagar a dívida. Para saber se consta no cadastro de inadimplentes, o consumidor precisa ir ao balcão de atendimento da CDL no Setor Comercial Sul, Quadra 6, Bloco A. Já os lojistas podem consultar o SPC pelo telefone 0800 941 9013 ou no site www.cdldf.com.br.

(Diego Amorim, Correio Braziliense)